quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Lembranças doídas de momentos bons

Deitados juntos, emaranhados, não era possível distinguir um do outro. Sua respiração e seus corações, se confundiam e parecia o mesmo. Ela fazia-lhe um carinho no braço e afagava-lhe os cabelos. E dizia baixinho para si mesma, como ela era feliz e como era sortuda em tê-lo. Ele retribuía, lhe acariciava o braço ritmicamente e por vezes dava-lhe um beijo. Ainda que sem dizer nada, ele dizia a ela que estava ali, ao seu lado. Espantava-lhe todos os medos.
Apesar de ter durado o bastante, eles sentiam que tudo tinha acontecido rápido demais. Desconfiavam de que esse era um dos mistérios do tempo, de fazer as horas se parecerem segundos, estando ao lado de quem se gosta.
Não queriam que acabasse. Ah se o tempo retrocedesse. Mas foi assim, num piscar de olhos que tudo isso passou a ser lembrança e deixou de ser real. Deixou de ser presente e se tornou passado. Saiu da tela da vida real e se transformou em filme passado na cabeça todas as noites antes de dormir. No início, o que restara era um largo sorriso no rosto e uma vontade absurda de fazer tudo outra vez. Mais uma vez. Eles ansiavam mais que tudo, reviver aqueles momentos de novo e de novo. Não se desgrudar, juntar, colar. A saudade era mágica. Tinha sabor, de valeu a pena. Era tudo lindo. Era tudo flores. 
Mas com o passar dos dias, eles perceberam que apesar do sorriso no rosto, eles carregavam algo mais. Era uma dor que sem que entendessem, doía interna e externamente. Seus corações apesar de imóveis e intactos, parecia que diminuía a cada respirar. Parecia lhes faltar até mesmo o ar. E foi aí que se deram conta, de que era a saudade, fazendo se mostrar na sua forma mais doída. Mesmo que não quisessem sentir, eles sabiam que a saudade viria cobrar o preço de ter vivido momentos tão felizes e profundos. Eles só não sabiam o quanto ela era tão boa e tão má. Tão feliz e tão triste. Tão essencial e tão dispensável. Não sabiam como ela podia machucar tanto aqueles que só desejavam sentir. Mas apesar de tudo, eles tinham uma única certeza: Eles pagariam qualquer que fosse o preço, para viver suas dores de amores. 
Eles suportariam. E sentiam que o que hoje era lembrança, tinha muitas chances de um dia se tornar real. De se tornar futuro. 
Se tornaria.
 

Mayra Coimbra

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